Em sua 20º edição, a maior feira de arte da América Latina dá um recorte das obras mais valiosas do mercado nacional, com destaques como Ismael Nery, Lygia Clark e Milton Dacosta
A SP-Arte, a maior feira de arte contemporânea da América Latina, completa 20 anos agitando o mercado. Desde sua criação, em 28 de abril de 2004, pela empresária Fernanda Feitosa, ela reúne mais de 5 mil obras e 2 mil artistas do Brasil e do mundo no histórico Pavilhão da Bienal. A feira tem sido uma plataforma que impulsiona o setor.
Em 2004, começou com 41 expositores, desde então, seu crescimento foi admirável: a edição deste ano (de 3 a 7 de abril) conta com mais de 190 expositores, entre galerias de arte, estúdios de design, editoras e instituições culturais, e espera receber 34 mil visitantes. Ao longo dos anos, o evento participou da formação de acervos de grandes museus, assim como de relevantes coleções particulares.
Em um mercado que movimenta bilhões e é cheio de variáveis como o das artes, conversamos com algumas das maiores galerias do país para saber quais são os trabalhos mais valiosos expostos na feira e como estão as vendas. Confira a seguir.
Almeida e Dale
No dia de abertura da SP-Arte, na última quarta-feira (3 de abril), às 15h, a galeria Almeida e Dale já tinha vendido metade de seu poderoso estande (a feira abriu para o público às 11h). O trabalho mais valioso exposto no estande da galeria era um Milton Dacosta, à venda pela bagatela de R$ 12 milhões. Fazendo companhia, empatados em segundo lugar, vêm os trabalhos de Sérgio Camargo e Ismael Nery, ambos por R$ 10 milhões.
“Esses são os trabalhos mais valiosos, mas nosso estande como um todo é muito valioso”, disse Antonio Almeida, um dos sócios da galeria, referindo-se aos trabalhos de Beatriz Milhazes (R$ 7 milhões e meio), Adriana Varejão (R$ 5 milhões) e Anish Kapoor (R$ 7 milhões e meio).
Antonio não quis revelar quais desses trabalhos já tinham sido vendidos até o momento da nossa conversa, mas lembrou: “a feira é um dos melhores momentos para fazer boas vendas e contatos que serão trabalhados o ano inteiro”.
Gomide & Co
A obra com o valor mais alto do estande da Gomide & Co este ano era uma coluna dos anos 1970 do artista argentino León Ferrari, que está à venda por R$ 4 milhões e meio. “O Pompidou tem uma obra dessas, o MoMA também”, disse Thiago Gomide, galerista à frente da casa. “Temos também um trabalho de Lygia Clark (artista brasileira mais valorizada da feira) por R$ 3 milhões e meio”.
Thiago ainda não tinha vendido nenhuma das obras mais valiosas de seu estande até o momento em que conversamos, mas estava otimista. “A feira é imprevisível, há anos em que vendemos dez obras nesses valores, outros em que não vendemos nenhuma”, disse. “São muitos fatores que precisam se alinhar para uma obra desse valor ser vendida”. No ano passado, Thiago foi um dos galeristas com o melhor balanço de vendas da feira.
“Às vezes vendemos a obra mesmo antes da feira abrir. Isso aconteceu no ano passado, quando vendemos uma obra de R$ 10 milhões antes das portas se abrirem. Mas não há regras, é um mercado muito volátil, uma galeria pode não vender nada em um mês e vender milhões no seguinte. Você precisa ser bem objetivo para trabalhar no mercado de arte, porque não dá para planejar”.
Nara Roesler
No estande da galerista e colaboradora da Forbes estavam expostos importantes trabalhos de artistas como Daniel Buren, Julio Le Parc, Sheila Hicks e Isaac Julien. “A obra de Isaac não é a mais valiosa do nosso estande, mas é muito importante”, contou America Cavalieri Pires, responsável pelo setor de vendas e projetos especiais da galeria.
“Ele fez um trabalho profundo com base na obra de Lina Bo Bardi e uma das exposições mais importantes do ano passado na Tate Modern, em Londres, além de ter sido condecorado pela rainha Elizabeth II com a Ordem do Império Britânico por sua contribuição no campo das artes”, complementou América. A obra “Encruzilhadas / Crossroads (Lina Bo Bardi – A marvellous entanglement)”, de 2019, está à venda por £ 53 mil (R$ 338 mil).
Dan Galeria
“A galeria trabalha com artistas históricos e contemporâneos, sendo os históricos os mais valorizados, e dentro de nossa curadoria para a feira, o trabalho que se destaca em termos de valor é de Ismael Nery pela raridade das obras”, disse Flávio Cohn, responsável pela Dan. “Ele é um dos artistas modernos mais valorizados, pois produziu apenas 100 telas em toda sua carreira”.
O trabalho de Ismael em questão estava sendo vendido por R$ 12 milhões. “Tarsila, Di Cavalcanti, Brecheret, Lygia Clark e Anita Malfatti também estão muito valorizados”, continuou o galerista, que ressaltou a importância de ter o trabalho de artistas desse calibre para a feira e para o mercado.
“Essas obras funcionam como referência de mercado para balizar os preços dos artistas do topo até a base. Para uma obra ser uma referência de investimento e patrimônio, precisamos considerar o valor histórico, a raridade e a perenidade da obra”.
Fonte FORBES