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De olho nos rótulos de alimentos: nem tudo é o que parece

Professora da UniSociesc explica como prestar atenção nos detalhes e fazer escolhas mais saudáveis na hora das compras.
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Tome cuidado se você é uma dessas pessoas que quer se alimentar de forma mais saudável, mas não presta atenção nas escolhas que faz quando está no supermercado. Para não cair em armadilhas e fazer escolhas corretas, precisa aprender a olhar alguns detalhes nos rótulos. Afinal, eles não existem apenas para deixar o produto mais atrativo.

Recentemente, entraram em vigor algumas mudanças definidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que vão facilitar a vida de quem está em busca de mais saúde no prato.

A doutora em Engenharia Química e professora da UniSociesc, Janaina Karine Andreazza, com formação em Engenharia de Alimentos, alerta para a importância dessa mudança de hábito. Segundo ela, produtos vendidos como “saudáveis” podem conter uma grande quantidade de conservantes, açúcares e gorduras, e o consumidor leva para casa acreditando que fez uma boa compra.

“É preciso criar o hábito de escolher lendo os ingredientes do produto, saber a quantidade de gordura, de proteína, de açúcar, de vitaminas que há dentro da embalagem. Muitas vezes você compra um iogurte, por exemplo, achando que vai levar apenas leite e fermento. Mas em alguns casos, tem muito mais lá dentro daquela embalagem”, exemplifica.

As novas regras da Anvisa ajudam, mas, ainda assim, a mudança depende da boa vontade de dedicar um pouco mais de tempo e atenção na hora da compra. A principal mudança é que os produtos com altas doses de açúcares, gordura saturada e sódio passaram a ter a inserção do símbolo de lupa na parte superior frontal do rótulo. O objetivo é deixar claro para o consumidor que o alto teor desse nutriente pode ser perigoso para a saúde.

Para Janaina, esses ingredientes merecem mesmo essa visibilidade. Afinal, estudos registram ligação entre o consumo rotineiro e o maior risco de obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares e outras doenças crônicas. Outras alterações importantes são a inclusão de mais informações nas embalagens e a padronização da cor da tabela nutricional, que passará a ter as letras sempre pretas e o fundo sempre branco para facilitar a leitura.

Apesar do alerta nas embalagens, não há necessidade de demonizar alimentos ultraprocessados. É importante alertar para que o consumidor saiba o que está comprando. “Não acho necessário abolir alimentos ultraprocessados da lista de compras. Só que é importante que sejam consumidos com bastante moderação, de maneira inteligente. Como tudo na vida, o que vale é o equilíbrio”, avalia. Da mesma forma, Janaina acredita que seja válido escolher produtos com valores de vitamina, proteína e carboidratos adequados.

A especialista destaca, no entanto, que um produto sem o alerta da lupa na embalagem não é necessariamente saudável. Muitas empresas ainda não se adequaram. O prazo para que todas estejam cumprindo a nova regra termina em outubro de 2025.

Cuidado com as pegadinhas

Na hora da compra, normalmente vale a regra da elegância: menos é mais. Quanto menos ingredientes adicionados, mais natural é o alimento. Quando a lista é muito extensa, o consumidor pode se enganar. “Algumas vezes, ele lê e não encontra a palavra ‘açúcar’, por exemplo. Mas é que o açúcar está ‘disfarçado’. Pode estar como maltodextrina ou em xaropes, como o de milho. Tudo é açúcar. Não tem saída. É preciso observar e pesquisar, se necessário”, ensina a especialista.

Uma dica valiosa é: os itens que aparecem primeiro na descrição de ingredientes são os que têm em maior quantidade no produto. Prefira, então, aqueles que são pobres em gordura, sódio e açúcar, mas ricos em fibras.

Quem procura alimento com zero açúcar ou zero lactose também precisa abrir o olho. Janaina reforça que a legislação brasileira permite certa quantidade de adição desses ingredientes. Às vezes, um rótulo marca “zero açúcar”, mas não é bem assim. “Tem que prestar atenção porque o rótulo sempre traz a unidade de medida. Por exemplo, se o ingrediente tiver 0,001 grama, a indústria pode arredondar para zero. A lei permite. Então, o consumidor compra achando que não tem açúcar, mas tem. Pouco, mas tem”, diz.

Já em relação à lactose existe uma outra regra: se o alimento tiver 100 mg de lactose por mililitro pode considerar que é zero lactose. Apenas o glúten tem regra mais severa, pois interfere diretamente em doenças autoimunes. Então, se tiver apenas traços de glúten precisa estar escrito.

Mas será que as mudanças farão diferença na escolha do alimento? A professora da UniSociesc acredita que sim. Os brasileiros estão se adaptando aos poucos e criando o hábito de ler e entender as embalagens. Uma mudança que pode levar tempo, mas que fará diferença para a saúde e o bem-estar. “Aos poucos, as pessoas vão entender que é nos rótulos que encontramos as informações necessárias para definir se a comida é ou não adequada para o nosso consumo, para a nossa saúde”, finaliza.